domingo, 21 de novembro de 2010

Momentos.I

A menina fixou-se na objectiva e disparou o doce sorriso de olhos. Ontem, em Achada Tossa, o repórter comoveu-se com o gesto e daí à magia foi um pulo. Enquanto os adultos falavam de coisas sérias e importantes, a menina do lugarejo iluminava o dia com o olhar fixo de esperança na festa do futuro. Ontem, Santa Catarina foi o concelho mais feliz de todo o universo: uma menina sorriu e o mundo ganhou nova cor!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Fragmento de poema

Pois, o olhar, esse caminho traçado, pregado ali no alvo como quem morde, como quem grita.

E o olhar é tudo. Não são precisas palavras. Porra, não se diz nada - o silêncio é de ouro. E o olhar diz tudo. E a fome também.

A fome?! Tens fome? ...Mas isso é coisa que se me pergunte? O que interessa é o copo, o último copo, o último olhar, o último arrepio.

A casa é perto e o caminho é bom. Mas, porra, fica sempre esse vazio...

[provavelmente Pandora e/ou Porosidade Etérea...]

Tchalê Figueira

A arte da rutura

Dele se diz ser um dos maiores nomes da pintura. Pudera: filho de peixe sabe nadar… Do pai - Manuel Figueira - terá herdado a “queda” para as artes

Tchalê suscita a perplexidade, o berrante cromático dança aos nossos olhos e desperta-nos a vontade de ver para além do olhar. E provoca-nos a capacidade de nos questionarmos. As coisas são mesmo assim, Tchalê provoca-nos porque quer que pensemos. A sua pintura tem a intensidade de uma proclamação, de um manifesto.

E é uma pintura de compromisso, que permanentemente desperta a visão crítica que, mesmo muito oculta, habita lá nessa zona obscura da interioridade humana. Anarquista por opção e, fundamentalmente, por razões estéticas, Tchalê Figueira é um militante de telas, tintas e pincéis – e um amante da liberdade animal que habita a consciência dos poetas, dos artistas e dos loucos.

E está lá tudo! Sim, nas telas, nos papéis, no traço apressado de cada boneco pondo a ridículo um ditador, o último tabu, o último mito e, naturalmente, a corja patética de hipócritas que navegam pelos terrenos pantanosos da política – espaço vivencial – grosso modo – de figuras, figurinhas e figurões…
E o povo está lá sempre, do Mindelo à Praia, espreitando a boleia de Tchalê que dele gostaria de ver protagonismo e papel na História. Porque o pintor há muito percebeu que os tiranetes têm sempre lugar efémero na roda da Humanidade. E são as pessoas comuns que traçam os caminhos da sua felicidade.

Há quem veja nele um surrealista. Esta facilidade com que críticos e diletantes olham para a criatividade alheia só pode decorrer de duas coisas: ou parvoeira endémica, ou preconceito neo-colonial. Porque haveria um cabo-verdiano de não ter seu próprio estilo?

Tchalê quem é? É Tchalê, caminheiro das partidas desta vida, homem de convicções e ruturas, emigrante precoce aos 17 anos, pintor, poeta, dramaturgo.

Podem ver a sua obra no Palácio da Cultura Ildo Lobo ou no Centro Cultural Português, onde se divide entre a pintura e o desenho - deslumbrando quem vê e pensa.

Foto: JOSÉ RAMOS