sexta-feira, 22 de abril de 2011

De pé, companheiro!

(ao meu Mestre e Amigo Nuno Rebocho)
Chegaram-me notícias daí. Sei que, aos poucos, obstinado e firme, te agigantas dos efeitos do AVC que te levou à cama do hospital. Fizeram-me o relato da tua alegria pela visita do Mário Lúcio e da consciência que tens da força que, mesmo à distância de um imenso mar, os teus amigos te transmitem. Sei que não te rendes aos efeitos da doença, precisamente porque sempre tens estado do lado da cura.
E nunca te rendeste. Mesmo quando as condições eram adversas, quando o varejo da PIDE entrava pelas casas adentro e violava o último reduto da liberdade de um homem, a intimidade das nossas paredes, o porto seguro de nossas casas.
Não te rendeste quando, boçal e insana, a ditadura fascista te encarcerou nas enxovias de Peniche e soubeste estar à altura: não falaste, não entregaste companheiros, foste anónimo herói da luta do nosso povo pela dignidade. E és o nosso herói!
És o nosso Mestre! A tua cultura, o teu domínio das palavras, a sabedoria que sedimentaste ao longo de uma vida de combates dão-nos a segurança, a retaguarda aconchegante de percebermos que em cada dia, em cada hora que nos honras com a tua presença, fazes de nós pessoas mais sábias e tornas o nosso trabalho mais útil.
Porque a tua caneta, Mestre, esteve sempre ao serviço de valores mais altos quando, ainda jovem escrevinhador de palavras, alinhavavas prosas de esperança que nos faziam acreditar num mundo melhor, corriam os anos de fogo do fascismo e a tua passagem por “O Tempo e o Modo”.
Dizem que tens maus feitio, Nuno… É verdade! Mas tens um carácter à prova de bala. Os teus “porra” e “foda-se” com que nos presenteias na redacção, são o mau feitio que utilizas para nos empurrar para a frente, para nos fazer agentes de uma escrita e de ideias que sejam úteis à elevação social e humana.
Aqui, na comodidade burguesa do meu escritório, quer dizer-te meu Mestre e Amigo que todos nós – os que te amamos e admiramos – aguentaremos o “fardo” do teu testemunho até que possas, no pleno das tuas capacidades, dar-nos a alegria de teu convívio e o privilégio da tua integridade de intelectual e cidadão.
Não tarda, sei que iremos percorrer as ruas da Cidade da Praia – e desse Cabo Verde que tanto amas – em alegres estroinas e conversas soltas, dando o abraço forte que une os que acreditam num bem maior para Humanidade: a felicidade!
Estamos contigo, Nuno!

Foto: WILLY MORAIS